domingo, 8 de dezembro de 2013

Silvia Vermelho | 2013.12.01 - 18:35
No passado dia 30 de Novembro realizou-se, em Tomar, a Assembleia Geral da Associação Nacional dos Movimentos Autárquicos Independentes (AMAI).
Estiveram reunidos alguns dos mais de 90 movimentos independentes que se candidataram a municípios no país, bem como algumas das candidaturas independentes a freguesias.
A minha presença como observadora nesta Assembleia deve-se, não só, ao interesse académico que possuo pela temática, e que me faz acompanhá-la, como também ao “imperativo cidadão”, permitindo-me o abuso filosófico, de acompanhar aquele que é o acto de resistência mais institucionalizada no nosso país: as candidaturas de grupos de cidadãos eleitores, pois elas são não apenas uma oposição ao poder político local que desafiam mas à praxis da política no Poder Local. Resistência, pois.
As intervenções não foram muito diferentes umas das outras. Para quem não acompanhou nenhuma eleição de um destes grupos de perto, e aqui no distrito de Viseu é difícil, visto não ter existido nenhuma candidatura independente aos órgãos municipais (apenas algumas ao nível da freguesia), talvez pudesse chocar a naturalidade com que se relatam as agressões, as hostilidades abertas, as represálias políticas na comunidade, as escutas, o hacking de e-mails, etc., etc. Este choque dever-se-ia não apenas à agressão em si, que nos habituámos a ver em alguns comportamentos mais clubísticos entre partidos, mas à concertação das suas fontes e origens: os partidos políticos, no que eu já antes comparei à afamada técnica do quadrado, protegem as suas costas. A Democracia Portuguesa é isto: admite a distribuição do Poder, mas apenas para alguns – aqueles, os já definidos, os alinhados, os institucionalizados.
Receava que este sentimento de pertença dos movimentos autárquicos independentes – pertença a uma identidade de resistência, de paladinos de uma nova política e democracia – pudesse ser cooptado pelos entusiasmos de quem, perniciosamente, atira para a opinião pública a hipótese de um ajuntamento dos movimentos independentes sob a liderança de um qualquer Rui Rio ou outro “senador” qualquer da nossa pátria. Esta sugestão que foi amplamente discutida nos media no pós-autárquicas, é um veneno para as candidaturas autárquicas independentes. E esta Assembleia sossegou-me, pois a lucidez destes Grupos de Cidadãos Eleitores verga-nos perante o seu comprometimento genuíno com a Democracia Local. É o localismo que garante a independência não só dos partidos políticos mas também entre eles mesmos, e que impede a formação de uma teia concorrente à teia partidária já existente, permitindo, assim, romper com a estrutura clientelar do trampolim em quem, durante décadas, fez da política local uma maneira de chegar aos centros de decisão nacional.
Até 2017, muita coisa vai mudar e, estou convicta, esta Resistência, do Local para o Nacional, trará frutos francamente positivos. Disse-o e repito-o – o Poder Local é que nos poderá resgatar da loucura colectiva do Poder Central. Confio.

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